segunda-feira, 8 de março de 2010

Aldeia de Monsanto - Castelo Branco

Foi esta a aldeia de alguns bons momentos de infância...

Filho de migrantes, com raízes albicastrenses (Castelo Branco), na altura do verão e das férias escolares passava férias na aldeia de Monsanto situada no concelho de Idanha-a-Nova, que é considerada a aldeia mais Portuguesa desde o século passado e onde existe registo de presença humana desde o paleolítico. Monsanto foi conquistada aos mouros por D. Afonso Henriques em 1165.

Monsanto é uma mistura de paisagem natural em que a obra do homem é visível através do aproveitamento do granito para a construção das habitações, a edificação de muralhas, muitos destes penedos servem de tecto, de parede ou de chão às habitações mais antigas da aldeia, é um núcleo habitacional bem preservado com ruas de traço medieval.

Em 1938 decorreu um concurso a nível nacional em que a aldeia de Monsanto ficou classificada como a “aldeia mais Portuguesa de Portugal", recebendo um galo de prata que se pode avistar no alto da torre da sua igreja.

Em Monsanto existem as adufeiras, senhoras que pertencem ao grupo folclórico da aldeia, tocam o adufe em grupo e cantam músicas de origem monsantina.

As Adufeiras de Monsanto usam instrumentos musicais a que dão o nome de cirandas, adufes, matracas, usam trajes tradicionais e todo um conjunto de objectos antigos permitem a realização de um espectáculo único, que reflectem os seus costumes e origens.

A gastronomia saborosa é resultado de tudo o que é cultivado e criado pelos habitantes da aldeia, desde os enchidos, os queijos, o pão, assim como uma grande variedade de pratos.

A maior parte da população de Monsanto vive da agricultura e ou da criação de gado, é caracterizada pela sua simplicidade e humildade das suas gentes, pessoas que trabalham imenso, que têm bem vincadas as tradições e que são fiéis há história e seus antepassados, marcam presença relegiosamente nas procissões, festas e romarias cristãs que se dão na aldeia, fazem feiras em que os produtos artesanais, animais, frutícolas e hortícolas são os principais artigos para venda, são também estas festas e feiras o elo de encontro de pessoas com as mesmas raízes que entretanto emigraram ou migraram á procura de uma vida melhor e servem também para conviver e confraternizar.

Monsanto é também caracterizado pela problemática das assimetrias regionais, pela migração e emigração das populações mais jovens que partem à procura de melhores condições de vida em direcção aos grandes centros urbanos onde existem mais condições de emprego e maior oferta ao nível dos serviços, ao exemplo da grande maioria das terras no interior Monsanto também “sofre” de desertificação.

Em Monsanto todas as casas são construídas em disposição de grandes blocos de pedra maciça, estão dispostos em forma rectangular, triangular ou oval, aproveitando a geografia do terreno, onde alguns grandes blocos de rocha servem de parede ou mesmo de tecto a algumas habitações que são cobertas por telhas.

Todos os anos a 3 de Maio é realizada a festa de Monsanto, a que apelidam de festa das cruzes ou festa do castelo, consta da lenda que houve uma época em que os Mouros fizeram um cerco ao castelo durante 7 anos, a intenção destes seria vencer os monsantinos pela fome uma vez que a aldeia ficava dentro do castelo e isolada da maior parte dos campos de produção agrícola e da criação de gado, foi então engordada uma vaca com todo o trigo disponivel e lançaram-na de cimo do castelo do ponto mais alto do castelo que atinge uma altitude de cerca de 700 metros sobre os inimigos, dando sinal de abundância alimentar, estes quando verificaram que os monsantinos se davam ao luxo apesar de estarem cercados há tanto tempo de desperdiçar uma vaca bem alimentada, gorda e com o estômago cheio de comida, pensaram que os monsantinos não seriam vencidos pela fome o que conduziu ao levantamento do cerco e tornando infrutífera uma espera de sete anos. Desde então, a festividade nunca mais foi interrompida e em sinal de evocação do episódio da vaca, são lançados todos os anos do ponto mais alto do castelo, potes de barro cheios de flores.

O contraste inevitável de passar de um ambiente citadino para uma aldeia onde a noção de tempo se baseia em aproveitar a vida sem correrias, onde se está em contacto com a natureza, com os animais, com outra cultura, costumes e tradições, onde a comida é bem saborosa e bem mais saudável, onde os principais meios de subsistência são a agricultura, pecuária e pastorícia. A minha adaptação foi fácil porque era uma criança que sempre tive gosto pela natureza e pelos animais. Também os meus avós viviam da lavoura.

Os meus avós tinham uma quinta com diversos animais, desde cães, gatos, cavalos, burros, vacas, cabras, ovelhas, galinhas, patos, pavões, coelhos, porcos, terras cultivadas com vinhas, árvores de frutos, hortaliças diversas e em certa forma tive oportunidade de aprender algumas coisas e de ter oportunidade de as por em prática, nomeadamente adquiri conhecimentos de sementeiras, aprendi a cuidar da horta, a regar, a cuidar do gado, a sachar, a apanhar fruta, a vindimar, a podar árvores, obtive conhecimentos ao nível da recolha de leite das vacas e ovelhas, conhecimentos de como se lavram as terras através de arado e de tractor agrícola, de adubação natural dos terrenos, de alimentação e criação de gado.

Usava o estrume que servia como poderoso e natural fertilizante dos terrenos agrícolas, trabalhei também com o tractor ou com uma parelha de vacas para lavrar a terra, semeava milho, feijão, batatas, regava as diversas plantações, recolhia leite que servia para vender, algum para consumo próprio e para usar no fabrico caseiro de lacticínios, fazia vindimas e ajudava a fazer vinho, ajudava na tradicional matança do porco que servia também para reunir toda a família e apanhava a azeitona de forma rudimentar comparado com os equipamentos tecnologicamente mais avançados utilizados nos dias de hoje, para tal utilizava a ajuda de uma vara e com esta varejava os ramos da oliveira fazendo cair a azeitona para os panos existentes no chão em redor, parte das azeitonas eram posteriormente utilizadas para a produção de azeite.

Aconselho vivamente, visitem e conheçam a aldeia de Monsanto, a aldeia mais portuguesa!!